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Quando um boneco muda o mundo: Como Laura transforma inclusão em realidade a partir do interior hervalense

10/06/2025 - 14h20min

Laura foi homenageada pela Câmara de Vereadores de Santa Maria do Herval (FOTOS: Câmara SMH)

Há pessoas que transformam o mundo em silêncio. Outras, com coragem. E há ainda quem faça isso com bonecos — pequenos no tamanho, gigantes no impacto. Laura Eduarda Mallmann Kieling, 23 anos, é uma dessas pessoas que provam que o tamanho da cidade onde se nasce não define o tamanho dos sonhos que se pode realizar.

Daqui de Santa Maria do Herval, com pouco mais de 6 mil habitantes, Laura já cruzou oceanos, palcos e desafios. Em 2025, ela foi uma das embaixadoras brasileiras na Brazil Conference at Harvard & MIT, nos Estados Unidos. Mas é aqui, em solo hervalense, que seu projeto floresce. O “Amigos Inclusivos”, criado por ela, adapta bonecos para que crianças com deficiência possam se ver representadas nas brincadeiras: com cadeiras de rodas, aparelhos auditivos ou outras singularidades.

Agora, o projeto se prepara para um novo e promissor capítulo: tornar-se oficialmente uma ONG. “Primeiramente, é isso: criar o CNPJ, o estatuto, ter uma estrutura. E junto disso, estou começando a escrever um livro infantil inclusivo. Nunca me imaginei como autora, mas é algo que a vida está trazendo e estou muito feliz com isso”, conta Laura. A ideia é criar historinhas com protagonistas que tenham deficiências — ampliando o alcance do projeto para além dos bonecos, levando inclusão para cada página virada.

Com livros em produção e parcerias em andamento — inclusive para a criação de um site e apoio jurídico —, a visibilidade alcançada por Laura após a viagem a Harvard tem gerado frutos concretos. “Teve vizinho meu que não sabia do projeto e, depois que saiu na mídia, veio falar comigo. Isso é lindo, porque mostra que a gente precisa de espaços para contar essas histórias.”

Amigos Inclusivos: de Santa Maria do Herval para o mundo

A história do projeto nasceu da própria vivência de Laura. Diagnosticada aos nove anos com a Doença de Wilson, uma condição rara, ela cresceu entre consultas, tratamentos e observações atentas sobre a realidade de outras crianças em ambientes hospitalares. “Vi que até no brincar essas crianças não eram representadas. E foi aí que tudo começou.”

Fundado em 2022, o “Amigos Inclusivos” já atendeu todas as famílias de Santa Maria do Herval que tinham necessidade. Hoje, a fila de espera se espalha por diversas cidades do Rio Grande do Sul e já chega a Santa Catarina. Com o apoio de voluntários, como o professor Eloir Rockenbach, de Dois Irmãos, que imprime em 3D os órios dos bonecos, a produção segue sob demanda, sem padronização — cada boneco é único, como a criança que o receberá.

“Tem crianças que não conseguimos representar ainda com o boneco. Um menininho com sindactilia (dedinhos grudados), por exemplo, vai ganhar uma historinha com ele como personagem, para contar aos colegas na creche. Queremos que as crianças saibam que pertencem ao mundo, com ou sem boneco.”

Da Harvard Conference à volta para casa — e com planos ainda maiores

A viagem aos EUA rendeu muito mais do que contatos com figuras como Ana Maria Braga e Michel Temer. De lá, Laura voltou com ideias, parcerias e convites. “Me perguntaram se eu pensava em mestrado ou doutorado… quem sabe? Mas sempre com o foco de voltar e aplicar tudo aqui.”
O retorno a Santa Maria do Herval também foi emocionante: recepção no aeroporto, carinho dos vizinhos e uma confirmação do que ela sempre soube — que seu lugar no mundo tem raízes firmes no solo do interior.

Reconhecimento no Legislativo hervalense

Pelo conjunto de sua trajetória e pelo impacto social gerado pelo Amigos Inclusivos, Laura foi homenageada oficialmente pela Câmara de Vereadores de Santa Maria do Herval. Em sessão solene realizada em 12 de maio, dentro da programação de aniversário do município, ela recebeu uma moção de reconhecimento proposta por unanimidade pelos vereadores.

O documento destaca sua ampla trajetória acadêmica, científica, social e comunitária. Laura estudou em escolas locais e é fluente em inglês e alemão. Foi integrante do Coral Meninas Cantoras de Novo Hamburgo, atuou como catequista e voluntária na paróquia local, recebeu premiações estaduais e nacionais em ciência, participou de intercâmbios culturais na Alemanha, Chile e Estados Unidos, publicou artigos científicos, foi Jovem Embaixadora pela Embaixada dos EUA e hoje cursa duas graduações simultaneamente: Políticas Públicas (UFRGS) e Relações Públicas (Unisinos).

Na justificativa da moção, os vereadores escreveram: “Reconhecemos todo seu talento, esforço e dedicação. Laura é exemplo de cidadania ativa, de juventude comprometida com a transformação social e de orgulho para Santa Maria do Herval.” A honraria foi entregue presencialmente à jovem, que agradeceu emocionada, dividindo o reconhecimento com todas as crianças que já receberam (ou ainda receberão) seus bonecos.

Um projeto que precisa de apoio para crescer

Para seguir alcançando mais crianças, Laura está abrindo canais de colaboração com a comunidade. Quem quiser colaborar com o projeto pode:

• Encomendar bonecos personalizados (caso tenha condições financeiras),
• Indicar crianças para entrar na fila de atendimento gratuito,
• Comprar camisetas do projeto (R$ 50, com parte do valor revertido ao projeto),
• Convidar Laura para palestras, eventos ou ações em escolas sobre inclusão.

“Claro que o objetivo nunca foi vender, mas hoje a gente precisa manter o projeto funcionando. Então, quem puder contribuir comprando um boneco ou uma camiseta, estará ajudando diretamente uma criança que não tem como pagar. E, se quiserem levar o projeto para uma escola, estou aberta — só preciso de apoio com os custos, porque o projeto precisa se manter.”

Contatos podem ser feitos diretamente com Laura pelo número: (51) 99162-4476.

Santa Maria do Herval como sede do futuro

Em meio ao aniversário de Santa Maria do Herval, Laura aproveita para reafirmar seu compromisso com a cidade: “Quero que a ONG seja daqui. Sempre digo isso com muito orgulho. Que seja um projeto do interior, mas que alcance crianças de todos os cantos. E quero continuar contribuindo com os jovens, com meu trabalho e com tudo que ainda está por vir.”

Porque quando uma boneca ganha uma cadeira de rodas, o mundo não muda só para aquela criança. Muda para toda uma geração que a a ver o diferente como parte do todo.

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