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Gripe aviária abala produção gaúcha e paralisa exportações de frango

17/05/2025 - 10h43min

Montenegro registra primeiro foco em granja comercial desde a chegada do vírus ao país em 2023; exportações de carne de frango são impactadas e governo decreta emergência zoossanitária

Montenegro, no Vale do Caí, tornou-se o epicentro de um marco preocupante para a avicultura brasileira. Na sexta-feira (16), o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou o primeiro foco de gripe aviária em uma granja comercial no Brasil, desde o início da circulação do vírus no país em 2023. A unidade, que abrigava cerca de 17 mil aves para produção de ovos férteis, teve suas atividades suspensas após a confirmação do surto.

A confirmação do caso coloca em risco um dos pilares da economia agroindustrial brasileira: a exportação de carne de frango. O Rio Grande do Sul é o terceiro maior exportador nacional do produto, e a presença do vírus em uma unidade comercial implica medidas duras para contenção — e consequências econômicas imediatas, como o bloqueio de mercados internacionais.

Alerta sanitário

Imediatamente após a detecção, a área da granja foi isolada e as autoridades acionaram um rigoroso protocolo sanitário. Em dois galpões da propriedade, a mortalidade das aves chegou a 100% em um deles e a 80% no outro. As aves sobreviventes foram abatidas e o material biológico descartado com segurança.

Além disso, foi iniciada a investigação em um raio de 10 quilômetros ao redor da granja, com barreiras sanitárias e desinfecção de veículos e pessoas. A Seapi (Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação) afirmou que a granja não terá nenhuma atividade até que o local e por completa higienização e desinfecção.

O superintendente do Mapa no RS, José Cleber Dias de Souza, destacou o preparo das autoridades diante do avanço global da doença:

— Se tem um aprendizado sobre como trabalhar com a doença. O Brasil foi o país que mais tempo conseguiu manter a produção comercial livre depois da detecção em aves silvestres —, afirmou.

O mês de maio já era considerado de risco devido à migração de aves silvestres, segundo o secretário adjunto da Agricultura, Márcio Madalena. — Não fomos pegos de surpresa. Sabíamos que, provavelmente em maio, poderia ter caso de ocorrência —, explicou.

Efeitos econômicos imediatos

A confirmação do foco já provocou reações nos mercados internacionais. A China e a União Europeia suspenderam imediatamente suas compras de carne de frango brasileira — este último com base no protocolo de autoembargo previsto nos tratados sanitários assinados com o Brasil.

Embora a China já estivesse com compras suspensas desde 2024 por outro motivo (a doença de Newcastle, detectada em Anta Gorda), o novo foco de gripe aviária pode postergar ainda mais as tratativas para a reabertura do mercado. A maior preocupação, segundo o setor, é evitar que o embargo se estenda para além da área afetada.

Nesse sentido, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, reforçou os esforços de regionalização dos embargos: — Os países com os quais já conseguimos trocar o protocolo, como Japão, Arábia Saudita e Emirados Árabes, mantêm restrição apenas para o Estado ou município afetado —, explicou.

Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o Brasil exportou 5,2 milhões de toneladas de carne de frango em 2024, batendo recorde e com crescimento de 3% em relação ao ano anterior. A manutenção da confiança internacional depende da contenção rápida do surto.

O presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos, afirmou que ainda é cedo para medir os danos: — O impacto será sentido, mas precisamos de mais tempo para mensurar o tamanho das perdas —, declarou.

Risco para a população

Autoridades reforçam que o consumo de carne de frango e ovos é seguro. O vírus da influenza aviária não é transmitido por meio do consumo desses alimentos.

Segundo o Ministério da Agricultura, o risco de infecção humana é considerado baixo e está a pessoas que tenham contato direto e prolongado com aves doentes, como tratadores e profissionais da área.

Como a gripe aviária se espalha

O vírus da gripe aviária de alta patogenicidade (IAAP) é altamente contagioso entre aves e se espalha com facilidade por meio de aves aquáticas migratórias — como patos e cisnes — que percorrem grandes distâncias. A maior vulnerabilidade está em regiões onde aves comerciais convivem com aves silvestres ou domésticas, principalmente em áreas rurais e centros urbanos com comércio de aves vivas.

Desde sua detecção na China, em 1996, a doença já provocou o abate de mais de 316 milhões de aves no mundo. O Brasil havia conseguido manter a produção comercial livre da doença até o presente momento, apesar de já ter registrado casos em aves silvestres e domésticas.

Cronologia da gripe aviária no Brasil

  • Maio de 2023 – Primeiros casos identificados no Espírito Santo.
  • Maio de 2023 – Primeiro foco em aves silvestres no RS, próximo à Lagoa Mangueira.
  • Junho e julho de 2023 – Casos em aves de criação doméstica no ES e SC.
  • Julho de 2023 – RS decreta emergência zoossanitária.
  • Outubro de 2023 – Vírus detectado em mamíferos no RS.
  • Fevereiro de 2024 – Caso próximo de regiões produtoras, em Rio Pardo.
  • Maio de 2025 – Primeiro foco comercial do vírus no Brasil, em Montenegro (RS).

A situação exige resposta rápida, rigor sanitário e articulação diplomática. O desafio agora é conter a propagação do vírus, proteger a cadeia produtiva e retomar a confiança internacional nas exportações brasileiras de proteína animal.

 

 

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