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Morre Divaldo Franco, referência do espiritismo no Brasil, aos 98 anos

O Brasil se despede de um dos maiores nomes do espiritismo. O médium e líder espírita Divaldo Pereira Franco faleceu nesta terça-feira (13), aos 98 anos, em Salvador (BA). O óbito foi constatado às 21h45 em sua casa, na sede da Mansão do Caminho, no bairro Pau da Lima, onde ele recebia cuidados médicos por meio de home care. A causa da morte não foi oficialmente informada, mas ele enfrentava um câncer na bexiga desde novembro de 2024 e sofreu falência múltipla dos órgãos.
Mediunidade desde a infância
Nascido em 5 de maio de 1927, em Feira de Santana (BA), Divaldo era o caçula de 12 irmãos. De acordo com sua biografia oficial, disponível na Mansão do Caminho, ele descobriu a mediunidade ainda na infância. As visões constantes e os contatos espirituais, no entanto, não foram bem recebidos pela família. Chegou a ser repreendido com violência pelos pais, que consideravam suas experiências como manifestações demoníacas.
Aos 7 anos, Divaldo enfrentou visões perturbadoras e a perseguição de um espírito obsessor. A situação só começou a mudar quando ele adoeceu gravemente e ficou acamado por meses. Após diversas consultas médicas sem diagnóstico conclusivo, os pais permitiram que uma médium o visitasse. A mulher identificou sua mediunidade e revelou a causa espiritual do sofrimento, marco que transformou sua trajetória pessoal e abriu as portas para sua atuação no espiritismo.
Uma vida dedicada ao bem
Sua vida pública no movimento espírita começou a ganhar destaque em 1952, quando fundou a Mansão do Caminho, localizada no bairro de Pau da Lima, em Salvador. A instituição acolhe e educa crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social. Com o tempo, o projeto se expandiu com escolas, oficinas profissionalizantes e atendimento médico, transformando-se em um centro de referência em assistência social e educação.
Até hoje, o espaço atende famílias inteiras de baixa renda, oferecendo ensino fundamental e médio, cursos técnicos e serviços de saúde. O trabalho é mantido pela venda de livros e gravações de palestras, entrevistas e mensagens do próprio Divaldo.
Movimento Você e a Paz
Outra grande contribuição social de Divaldo foi a criação do evento ecumênico Movimento Você e a Paz, em 1998. Com proposta não religiosa nem política, o encontro ocorre tradicionalmente em Salvador, próximo ao Natal, e reúne multidões para refletir sobre paz e fraternidade. De acordo com a Mansão do Caminho, mais de 75 cidades em 14 países já aderiram ao evento, sendo 60 municípios no Brasil.
Na edição de 2024, realizada no Terreiro de Jesus, personalidades como Ivete Sangalo e Carlinhos Brown participaram. Já em tratamento contra o câncer, Divaldo não compareceu, mas deixou uma mensagem em vídeo exibida ao público.
Internações e luta contra o câncer
Em novembro de 2024, Divaldo ou nove dias internado no Hospital São Rafael devido a desconfortos urinários, período em que foi diagnosticado com câncer na bexiga. Recebeu alta no dia 25 daquele mês e iniciou o tratamento em 2 de dezembro, com sessões ambulatoriais de radioterapia no Hospital Santa Izabel, combinadas a pequenas doses de quimioterapia, sem necessidade de internação.
Durante o tratamento, Divaldo também foi acompanhado por nutricionista e fisioterapeuta, mantendo estabilidade clínica. Em fevereiro de 2025, voltou a ser internado para tratar uma infecção urinária, ficando oito dias no hospital antes de retornar ao home care.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), homens brancos e idosos — perfil de Divaldo — estão entre os grupos de maior risco para esse tipo de tumor. Entre os principais sintomas estão sangue na urina, dor ao urinar e urgência urinária frequente.
Despedida com cerimônia simples
O velório será realizado nesta quarta-feira (14), das 9h às 20h, no ginásio de esportes da Mansão do Caminho, com o aberto ao público. A pedido do médium, o caixão permanecerá fechado, sem cortejo em carro aberto, e as cerimônias serão breves. O sepultamento será às 10h de quinta-feira (15), no Cemitério Bosque da Paz, em Salvador.
Um legado imortal
Ao longo da vida, Divaldo Franco publicou mais de 250 livros, muitos psicografados, e teve obras traduzidas para diversos idiomas. Em 2015, sua trajetória foi registrada em biografia escrita pela jornalista Ana Landi. Ele não teve filhos biológicos, mas foi reconhecido como pai por cerca de 685 jovens acolhidos e educados por ele na Mansão do Caminho.
Divaldo também era frequentemente associado a Chico Xavier, com quem dividiu décadas de atuação espiritual e humanitária. Sua morte deixa uma lacuna profunda na espiritualidade brasileira, mas seu legado permanece vivo nas palavras, nos projetos e nas vidas que tocou.