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Desmatamento na Amazônia em maio supera área de Nova York e acende alerta às vésperas de conferência climática da ONU

MANAUS – O mês de maio trouxe um duro revés para as metas ambientais do Brasil. Dados oficiais divulgados nesta sexta-feira (6) revelam que a floresta amazônica perdeu 960 quilômetros quadrados de vegetação – uma área ligeiramente superior à da cidade de Nova York. O número representa um aumento de 92% em relação ao mesmo mês do ano ado e é o segundo pior resultado para maio desde o início do atual sistema de monitoramento, em 2016.
A divulgação ocorre em um momento sensível, às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre o Clima, marcada para novembro em Belém. O aumento da devastação pode comprometer o discurso do governo brasileiro, que vem tentando se firmar como liderança global no enfrentamento da crise climática.
O secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, afirmou que a Amazônia vive “uma nova era”, marcada por incêndios florestais crescentes, que agora superam o corte raso como principal vetor de desmatamento. Segundo ele, os focos de fogo que devastaram a floresta durante a histórica seca de 2023 só agora apareceram nas imagens de satélite, devido ao fim da estação chuvosa e à melhora na visibilidade dos danos.
Diferente dos incêndios intensos e velozes comuns na América do Norte, os focos amazônicos tendem a queimar o solo, em processos mais lentos e subterrâneos. “Algumas áreas se regeneram, mas outras entram em colapso”, explicou Capobianco.
Pelo sistema brasileiro de monitoramento, uma área é considerada desmatada quando perde mais de 70% de sua cobertura vegetal nativa. O avanço registrado em maio pode comprometer a tendência de queda no desmatamento verificada desde 2023, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu seu terceiro mandato prometendo zerar a destruição da floresta até 2030.
Nos últimos 10 meses – período oficial do calendário de monitoramento, que vai de agosto a julho –, o desmatamento na Amazônia aumentou 9,7% em comparação com o mesmo intervalo do ano anterior.
Em meio à crescente pressão internacional, Capobianco voltou a defender a proposta brasileira do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que prevê compensações financeiras de longo prazo a países que conservam ou restauram suas florestas. “Estamos diante de um fenômeno global. Basta ver o que aconteceu no Canadá”, disse, ao citar o aumento de incêndios florestais também em nações do Norte.
A importância da Amazônia para o equilíbrio climático do planeta é indiscutível. A floresta tropical mais extensa do mundo – com cerca de dois terços em território brasileiro – abriga cerca de 20% da água doce superficial do mundo, estoca imensas quantidades de carbono e é lar de mais de 16 mil espécies de árvores, além de centenas de povos indígenas, alguns em isolamento voluntário.
Segundo a organização Climate Watch, o Brasil é responsável por cerca de 3% das emissões globais de gases de efeito estufa, sendo quase metade delas causadas pelo desmatamento. Combater a devastação da Amazônia, portanto, é essencial para o país cumprir os compromissos assumidos no Acordo de Paris.
A expectativa agora se volta à divulgação da taxa anual de desmatamento de 2025, que deve ser apresentada semanas antes da COP em Belém. Com os olhos do mundo voltados para a floresta, o Brasil enfrenta o desafio de equilibrar discurso e realidade em sua política ambiental.